Língua francesa e língua portuguesa no Brasil do século XIX: entre a francofilia e os discursos pela língua nacional
Resumo
O objetivo com este trabalho foi investigar o processo de escolarização da língua francesa na instrução pública brasileira nas primeiras décadas do século XIX. Evidenciava-se nesse período uma ambiência cultural marcada por forte influência francesa que se dava, sobretudo, pela circulação e usos de impressos, o que apontava a França como grande produtora e comerciante de conhecimentos. É nesse contexto que a língua francesa foi proposta e instituída como disciplina escolar na instrução pública brasileira desde a primeira década do século XIX. Tomaram lugar central nas análises empreendidas: a produção de uma legislação que institui o ensino da língua e promove a “passagem” de uma prática cultural para um saber escolarizado e a relação desse processo como o contexto cultural. Destacam-se, ainda, registros de um paradoxo. A mesma língua portadora de um paradigma de civilidade, que permite o acesso ao conhecimento necessário a uma sociedade esclarecida e que se deseja civilizada, poderia apresentar um aspecto negativo a partir do momento em que passava a interferir na identidade da nação, vislumbrada, também, por meio da unidade de sua língua pátria.
Palavras-chave
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DOI: http://dx.doi.org/10.35572/rlr.v11i4.2548
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