Itinerários formativos na BNCC: sentidos em mídias digitais

Aline Maria dos Santos Pereira, Gerenice Ribeiro de Oliveira Cortes

Resumo


O artigo tem por objetivo analisar o discurso inscrito em materialidades digitais sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio, com foco nos Itinerários Formativos. Ancora-se teoricamente nos pressupostos da Análise de Discurso de filiação pecheuxtiana; mobilizamos, dentre outras, as noções de discurso, posição-sujeito, discurso logicamente estabilizado e silenciamento. Ademais, temos as contribuições das áreas de Educação e Ciências Sociais. O corpus é constituído por quatro materialidades discursivas: dois fragmentos da BNCC sobre os Itinerários; uma notícia sobre a BNCC/Itinerários; e um print com cinco comentários acerca da notícia. Os resultados apontam que o discurso da BNCC/ Itinerários funciona com efeitos de flexibilização do currículo e liberdade de escolha dos alunos; porém, nesses ditos funcionam muitos não-ditos e outros sentidos são silenciados, tais como, diversidades regionais; desigualdade social; ausência de políticas governamentais adequadas para a educação; precárias condições de trabalho, além de diversas questões acerca da conjuntura social que interferem na dinâmica dos Itinerários e produzem determinações no processo educacional. Os sentidos se movimentam em/nas rede(s) midiáticas digitais, e nesse funcionamento discursivo, é possível observar que o discurso estatal, em anuência com o discurso pedagógico, busca impor uma posição-sujeito de defesa da BNCC, com efeitos de sentidos de que as orientações do documento trarão soluções aos problemas educacionais do país; entretanto, como a língua se constitui da falha, instauram-se também em/nas redes confrontos discursivos, resistência e contestação; afinal, como afirma Pêcheux (2014c), o sentido sempre pode ser outro.


Palavras-chave


BNCC. Itinerários Formativos; Discurso digital; Efeitos de sentidos

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DOI: http://dx.doi.org/10.35572/rlr.v11i2.2386

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