O entrelace entre Decolonidade, Educação e Ensino de Línguas e Literaturas, proposto no presente número da Revista Leia Escola, aproxima objetos de estudos, por vezes, distantes em razão, sobretudo, dos limites da disciplinaridade científica. Esta abertura transdisciplinar para a discussão sobre decolonidade nos campos mencionados conduz à descoberta das raízes da legitimidade de processos próprios das relações escolares e não-escolares – não isentas do marco do capitalismo globalizado, colonial e eurocentrado (QUIJANO, 2005). A epistemologia decolonial baseia-se na lente múltipla para a percepção do mundo, sendo este um lugar constituído pelo poder hegemônico e por relações humanas assimétricas e de dominância.
De modo geral, o pensamento pós-colonial decolonial ou os estudos decoloniais têm origem na análise dos contextos históricos sucessíveis do colonialismo, especialmente tratando-se da constituição das identidades da América Latina. A perspectiva decolonial, portanto, refere-se aos estudos pós-coloniais voltados aos efeitos da colonização nas culturas e nas sociedades colonizadas que são partes daquilo que compõe o pós-modernismo. Assim, tais teorias aparecem para confirmar uma perspectiva de análise dessas estruturas sociais, tecendo contribuições teóricas e investigativas heterogêneas sobre a colonialidade. Os estudos decoloniais, que muitas vezes procuram se desvincular dessa relação com o pós-colonialismo, além do mais, intencionam a recuperação de epistemes perdidas, apagadas pela modernidade. Em outras palavras, conforme Ballestrin (2017), a postura decolonial busca recuperar as contribuições latino-americanas do pós-colonialismo anticolonial e, ao mesmo tempo, pretende se afastar do cânone pós-colonial, inserindo a América Latina no debate e realizando, de forma radical, a crítica à modernidade e ao eurocentrismo.
Ainda é importante destacar que, na abordagem decolonial, há a tendência de reescrita e ressignificação do presente e do passado das ex-colônias. Esse reinventar, de acordo com Hamilton (1999, p. 18), é “uma estratégia estético-ideológica que tem em vista protestar contra as distorções, mistificações e exotismos executados pelos inventores colonialistas”. Percebe-se, neste contexto, que as identidades são sempre objeto de análise sejam nas narrativas presentes, sejam nas narrativas passadas, sendo assim, reformuladas, ressignificadas e reconstruídas, em um jogo constante de assimilação e diferenciação para com o “outro”.
Necessariamente, nos estudos decoloniais, ganham evidência as vozes das culturas e dos segmentos sociais que estão situados na periferia das estruturas sociais: imigrantes, minorias raciais, mulheres, pessoas com deficiência, segmentos do movimento LGBTQIA+, entre outros grupos. Nesta abordagem em pauta, a questão da diferença subjugada e deslocada é central para o entendimento dos valores culturais próprios do processo de colonização (ASHCROFT, GRIFFITHS e TIFFIN, 1989; BHABHA, 2005).
Com o intuito de aprofundar tais discussões, no dossiê que aqui se apresenta, pretendemos contribuir na ampliação e divulgação de trabalhos que abordam estudos decoloniais na educação e, de forma mais específica, no ensino de línguas e de literaturas, trazendo, com isto, um conjunto de nove textos: sete artigos, uma entrevista e uma resenha para fortalecer a discussão.
Sumário
Expediente
EXPEDIENTE
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04
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Apresentação
Tatiana Lourenço de Carvalho, Jackeline Susann Souza da Silva, Claudia Regina Rodrigues Calado
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05-08
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Dossiê Temático
Rinah de Araújo Souto, Ana Paula Taigy
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09-28
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Francisco Rogiellyson da Silva Andrade
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29-42
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Lívia Márcia Tiba Rádis Baptista
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43-57
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Renato de Oliveira Dering, Gustavo Henrique Gandra
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58-69
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Meire Celedonio da Silva, Rosilene Batista Sales
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70-92
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Lindomar Cavalcante de Lacerda Lima, Rosivaldo Gomes
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93-109
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Alvaro Jose Dos Santos Gomes, José Veranildo Lopes da Costa Junior
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110-123
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Resenha
Adriana dos Santos Pereira, Ametista de Pinho Nogueira Silva
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124-131
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Entrevista
Tatiana Lourenço de Carvalho, Dina Maria Machado Andréa Martins Ferreira, Lucineudo Machado Irineu
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132-141
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